A Nicarágua, liderada pelo ditador Daniel Ortega, não figurou entre os 10 países mais perigosos, mas um relatório da organização Portas Abertas dedicou um capítulo especial ao país. De acordo com a denúncia, o regime de Ortega intensificou a perseguição a membros da Igreja e líderes cristãos, alcançando a 30ª posição na Lista Mundial de Perseguição de 2024. Isso representa um salto de 30 posições em relação ao ano anterior, quando ocupava a 50ª posição, marcando um dos avanços mais rápidos neste índice que avalia a opressão aos cristãos globalmente.
A escalada de hostilidades é atribuída ao controle autoritário crescente do regime de Ortega Murillo, que, desde sua eleição em 2006, intensificou a repressão religiosa, especialmente após a repressão ao movimento pró-democrático em 2018. No último período, restrições legais à liberdade religiosa resultaram na prisão de líderes cristãos e no exílio forçado de padres e bispos católicos.
O bispo de Matagalpa, Rolando Álvarez, conhecido por sua defesa das liberdades civis, foi despojado de sua cidadania e condenado a mais de 26 anos de prisão em fevereiro de 2023, antes de ser deportado recentemente. A União Europeia, o Departamento de Estado dos Estados Unidos e o Grupo de Especialistas em Direitos Humanos da ONU sobre Nicarágua denunciaram e sancionaram o governo nicaraguense por esses eventos, considerando as ações do estado como crimes de lesa humanidade.
As acusações contra o bispo incluíram “atentado contra a integridade nacional” e “propagação de notícias falsas”. As consequências internacionais incluíram restrições de visto impostas pelos EUA a funcionários ligados ao regime. Além disso, instituições religiosas, como universidades cristãs, tiveram seus registros cancelados, e propriedades foram apreendidas, incluindo meios de comunicação do setor. O governo também impôs a anulação de eventos religiosos em locais públicos.
Essas ações contra a comunidade cristã na Nicarágua refletem uma tendência repressiva que afeta negativamente a liberdade religiosa e de expressão. A comunidade internacional expressa preocupação diante dessas violações de direitos humanos e continua a exercer pressão diplomática sobre o governo de Ortega Murillo por sua conduta autoritária e repressiva.
O próprio Ortega classificou a Igreja como uma “máfia”, enquanto o papa Francisco, em diálogo com o Infobae, caracterizou o governo sandinista como uma “ditadura grosseira”.
A organização Portas Abertas, responsável pelo relatório, divulgou também uma série de recomendações políticas para proteger a liberdade religiosa e melhorar a estabilidade de estados frágeis, destacando regiões como o Sahel, Iraque, Índia e Argélia. Entre as sugestões estão destinar recursos para a estabilidade em estados vulneráveis, assegurar a liberdade religiosa no direito internacional, promover a unidade inter-religiosa e abolir leis restritivas da liberdade de culto. Além disso, propõe condicionar acordos comerciais e ajuda internacional ao respeito pelos direitos das minorias religiosas.
A iniciativa enfatiza a integração da liberdade religiosa como parte central da política externa e da diplomacia, além de destacar a importância da educação para combater narrativas radicais. A organização ressalta a necessidade de abordar questões específicas em países como a Nigéria perante o Conselho de Direitos Humanos da ONU, incluindo o questionamento sobre a integração da representação de minorias em esforços de estabilidade.
Desde 1993, a Portas Abertas elabora anualmente a Lista Mundial de Perseguição, classificando os países onde é mais difícil viver a fé cristã. O relatório é compilado por especialistas regionais e auditado por uma organização externa especializada em liberdade religiosa.
Gazeta Brasil