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Curiosidades

Quem é a designer do interior de São Paulo que criou o logotipo do Google

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Azul, vermelho, amarelo e verde. Quatro cores, seis letras e um universo de informação por trás de cada uma delas. Há cerca de 25 anos, é assim que o Google, maior buscador do mundo, se apresenta na internet.

 

O que nem todo mundo sabe, no entanto, é que uma das marcas mais conhecidas da atualidade – e que já atravessa gerações – foi idealizada e desenvolvida por uma mulher, a designer Ruth Kedar. Menos ainda, que ela é brasileira, nascida no interior de São Paulo.

Em uma entrevista ao g1, Ruth contou sua história, da chegada de seus avós ao país, até a infância e adolescência em Campinas (SP). Ainda deu detalhes sobre o que está por trás do logotipo da gigante de tecnologia e qual a importância da criação para sua carreira

Quem é Ruth Kedar 👩

Ruth Kedar é uma brasileira designer, diretora de arte, mentora e palestrante, com trabalho reconhecido, principalmente, nos Estados Unidos.

Hoje com 68 anos, é conhecida por ter criado o logotipo do Google. Também tem passagem pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, e foi diretora de arte na multinacional Adobe.

Em seu site, a profissional é descrita como alguém que integra novos caminhos de pensamento e um sofisticado senso estético para desenvolver soluções inovadoras.

Campineira de nascença e coração ❤️

 

Família reunida na Rua Maria Monteiro, em Campinas, na primeira viagem de Ruth de volta ao Brasil, em 1985 — Foto: Arquivo Pessoal

Família reunida na Rua Maria Monteiro, em Campinas, na primeira viagem de Ruth de volta ao Brasil, em 1985 — Foto: Arquivo Pessoal

Entre o final dos anos 1920 e o início de 1930, os avós de Ruth deixaram a Polônia para escapar da perseguição enfrentada pelos judeus. “Eles estavam em busca de um refúgio seguro, uma terra onde pudessem vislumbrar um futuro mais brilhante e seguro para seus filhos”.

O Brasil foi o destino escolhido. Seguindo os costumes da época, um membro da família partiu primeiro para encontrar a cidade ideal. Campinas, no interior do São Paulo, já possuía uma pequena comunidade judaica e acabou se tornando o lar dos familiares da designer.

“Meus pais eram crianças pequenas quando chegaram a Campinas e foi lá que passaram seus anos formativos, receberam sua educação, frequentaram a universidade e iniciaram suas carreiras. É onde eles se conheceram, se apaixonaram, começaram uma família e onde eu nasci”.

O casal e a filha se mudaram para a capital paulista quando ela tinha 2 anos, mas continuaram visitando Campinas. “Minha infância foi preenchida com fins de semana e férias na casa de minha tia e tio, criando laços com meus primos, fazendo passeios de bonde até a loja deles na Rua 13 de Maio”.

“Apesar de não morar lá, Campinas ainda parecia ser meu lar durante toda a minha infância e adolescência”.

Hora de partir ✈️

Aos 9 anos de idade, ao lado das primas na Rua Barbosa de Barros, em Campinas — Foto: Arquivo Pessoal

Aos 9 anos de idade, ao lado das primas na Rua Barbosa de Barros, em Campinas — Foto: Arquivo Pessoal

Pouco antes dos 16 anos, Ruth e a família se mudaram mais uma vez. Agora, para terras mais distantes. O pai recebeu uma oferta de emprego na Universidade de Tel Aviv, em Israel, e ela precisou embarcar em uma jornada de aprendizados. Novo idioma, novo alfabeto, costumes desconhecidos e uma cultura bem diferente.

Apesar dos desafios, a campineira concluiu o ensino médio e foi para a faculdade. Começou a formação como arquiteta e fez cursos de design. Por um tempo, passou a ser vista como superqualificada pelas companhias do setor, enquanto as de arquitetura não tinham muito interesse nela. Acabou fundando a própria empresa.

Universidade de Stanford, na California, onde Ruth estudou — Foto: Divulgação

Universidade de Stanford, na California, onde Ruth estudou — Foto: Divulgação

Só que, aí, veio mais uma mudança. “Cinco anos depois do início de minha carreira, dois fatores decisivos convergiram: o conflito no Líbano e a tenra idade de meus filhos [então com 5 e 1 ano]. Meu marido e eu começamos a discutir a ideia de seguir nossos estudos de pós-graduação nos Estados Unidos”.

Ruth Kedar, o marido e os dois filhos foram embora para a Califórnia, onde ela passou a estudar e, depois, a trabalhar na Universidade de Stanford. Também passou pela Adobe Systems, multinacional norte-americana de softwares de edição, e se tornou diretora de arte. Anos depois, abriu o próprio estúdio de design.

🏠 Nascida no Brasil, ela voltou ao país pela primeira vez aos 24 anos, com a própria família, e afirma que as visitas à terra natal, se tornaram uma tradição anual. “Sempre ficávamos na casa da minha tia em Campinas. Mesmo após todos esses anos, Campinas ainda ocupa um lugar especial em meu coração e parece ser meu lar”.

 

Da letra às cores: o que está por trás do logotipo 🤔

 

Logotipo do Google — Foto: Reprodução

Ruth lecionava nas turmas de design da Universidade de Stanford, em meados dos anos 1990, quando foi procurada pelo jovem Larry Page. Ele e o colega de classe Sergey Brin estavam começando uma nova empresa, o Google, e procuravam alguém que pudesse projetar o logotipo, como lembra a designer.

“A intenção era criar uma empresa como nenhuma outra, sem o desejo de seguir noções preconcebidas sobre como as coisas deveriam ser feitas. Eles não desejavam seguir os passos de nenhuma outra empresa. Mesmo sendo uma startup, eles queriam se destacar e deixar sua marca”.

O logotipo pode até parecer simples para quem acessa o site casualmente, mas por trás de cada cor e forma está um significado importante. Ruth conta que Larry e Sergey sempre pensaram no projeto como algo a longo prazo. Assim, era preciso que a marca tivesse a consistência necessária para atravessar décadas. Dito e feito.

  • 💡 A escolha da fonte: após muitas conversas, Ruth, Larry e Sergey definiram que o logotipo levaria apenas letras, sem outros símbolos. Escolheram como base a fonte Catull que, segundo a criadora, representaria o ponto em que passado e futuro se encontram. Havia leveza, elegância e precisão, unindo tradição a uma visão futurista.
  • 🎨 As cores: depois, optaram por cores primárias. Vermelho, azul e amarelo, muitas vezes usados em brinquedos de desenvolvimento infantil. É que, naquela época, o Google era um serviço para estudantes universitários, que estavam mais familiarizado com a internet, enquanto muita gente ainda tinha medo de acessá-la.

Essa ideia de ter medo de interagir com a nova tecnologia foi o cerne da introdução da ideia de brincadeira de criança. Não brincadeira como sendo infantil, mas brincadeira como algo alegre. Quando você brinca, você tem curiosidade, assume riscos e se diverte no processo”.

 

  • ✨ O conjunto da obra: Com a escolha das cores a próxima pergunta foi: em que ordem? “Na teoria das cores, progressões em matiz, valor e saturação têm um lugar preciso na roda de cores. A escolha de misturá-las de maneira surpreendente e inesperada refletiu o fato de que o Google não seguia regras estabelecidas e tinha uma nova maneira de ver todas as coisas”.

Por trás da marca mais conhecida da atualidade, uma mulher ✊

Estar por trás de uma de uma das marcas mais conhecidas do mundo tem seu peso. Sendo uma mulher, mais ainda. “Ao longo de minha vida, demonstrei uma forte inclinação e talento para áreas que historicamente, e em alguns casos persistentemente, são dominadas por homens – como matemática, ciência, tecnologia, engenharia e arquitetura”.

“Enfrentei mensagens tanto explícitas quanto sutis que sugeriam que eu não pertencia, que minhas opiniões eram menos importantes ou que eu deveria guardar meus pensamentos para mim”, declara Ruth.
No entanto, com uma carreira de tanto sucesso, é de se imaginar que Ruth nunca se importou com isso. Com orgulho e profissionalismo, a designer afirma que a criação do logotipo do Google nunca mudou sua percepção sobre a própria imagem e nem serviu para inflar o senso de autoimportância. No lugar disso, se dedicou a encontrar boas lições.

“Ser uma mulher durante meus anos formativos e início de carreira também desempenhou um papel fundamental na formação de minha curiosidade sobre o mundo mais amplo e no que nos une como seres humanos, em vez do que nos divide”, reflete.

“Reconheço que projetar um logotipo tão icônico abriu portas e concedeu acesso a lugares que antes eu tinha dificuldade em alcançar, mas minha maior fonte de alegria está no conhecimento de que meu sucesso capacitou gerações de mulheres a reivindicar seu lugar legítimo à mesa”.



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